terça-feira, 5 de novembro de 2013

7º BookCrossing Blogueiro

Em abril deste ano eu participei pela primeira vez do BookCrossing Blogueiro, um projeto desenvolvido pela Luz de Luma, yes party. O projeto, que me conquistou logo que li sobre ele, é interessante não apenas por incentivar o desapego, mas, principalmente, por estimular o hábito da leitura.
Achei uma delícia participar da edição passada, libertar um livro já lido e pensar que o novo dono poderia se emocionar com a leitura da mesma forma como eu me emocionei,  fez com que eu amasse a ideia e me sentisse instigada a participar de novo.

A 7ª edição do BookCrossing Blogueiro acontece de 8 a 16 de novembro. Não há desculpa pra ficar de fora, teremos vários dias para sair libertando nossos livros por aí: um, dois, três, quantos quisermos... É só darmos uma espiadinha na nossa estante que com certeza encontraremos algum que esteja disponível, só esperando uma oportunidade para circular livremente.
É facinho participar do projeto - basta escolher o livro, colocar um bilhetinho dentro (explicando que ele é livre, deve ser lido e passado adiante para que outras pessoas o leiam também) e deixá-lo em algum lugar movimentado à espera do próximo leitor. Além de ser algo divertido, ainda contribuímos um pouquinho com a propagação da cultura e ajudamos a estimular cada vez mais o gosto pela leitura. :)


Amor sem fim, de Ian McEwan - um dos livros que libertarei!

Ah, as crianças também podem participar, se quiserem convidar os filhos e colocá-los na brincadeira fiquem à vontade - com certeza eles irão adorar.

Vocês encontrarão mais informações no blog da Luz de Luma, lá ela explica tudo detalhadamente!.

Vamos participar, pessoal, é legal que só! :)




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Estive em Weimar - uma cidade que respira cultura!

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Centro de Weimar

Eu adoro fazer passeios culturais, sobretudo aqueles que estão relacionados com livros, escritores, bibliotecas e todo esse universo da literatura. Por isso, não sosseguei até arranjar um tempinho para conhecer Weimar, uma linda cidadezinha na Alemanha. O que me motivou a visitá-la não foi apenas a beleza de sua arquitetura Bauhaus, seus parques, seu famoso Rio Ilm, suas casinhas com flores nas janelas tão tipicamente alemãs, mas o fato de ter relação com o Romantismo, uma escola literária da qual gosto muito.Outra razão que me levou a essa cidade foi saber que lá viveram dois dos mais importantes nomes da literatura alemã: Goethe e Schiller.Não, minha gente, eu nunca li absolutamente nada de Schiller, tentei certa vez ler a Noiva de Messina(traduzido para o português, obviamente), mas achei a leitura tão difícil que abandonei pouquíssimo tempo depois de começar. De Goethe li Os Sofrimentos do Jovem Werther, algumas poesias e só. Até tenho na minha estante o Fausto, mas ando postergando a leitura por ainda não me sentir capaz de ler algo assim tão complexo… Quem sabe um dia.
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Estátuas de Schiller e Goethe  no centro da cidade

A cidadezinha simplesmente me encantou, não só por sua beleza mas pela atmosfera agradável do lugar e pela memória viva e pulsante das personalidades que ali viveram. Além dos dois escritores já citados, em Weimar viveram também Lutero, Sebastian Bach, Marlene Dietrich, Wagner, Strauss, Nietzsche, Rudolf Steiner, Shopenhauer, entre outros. A cidade é um amontoado de recordações para onde quer que nos viremos, é como se todas essas personalidades – de uma forma ou de outra – tivessem deixado suas marcas, dando assim um toque especial ao lugar.
Pra começar bem o passeio fui conhecer a Casa de Campo de Goethe, uma casinha simpática que mais parece ter saído de uma história do próprio escritor. A casinha – que está localizada dentro do belíssimo Parque de Goethe – foi onde ele escreveu seu romance mais conhecido, Os Sofrimentos do Jovem Werther, obra que deu origem ao Romantismo (estive há pouquíssimo tempo na Casa de Goethe em Frankfurt e lá consta que foi nessa casa que ele escreveu Os Sofrimentos do Jovem Werther. Desculpem as informações desencontradas 🙂 ). Só o percurso do meu hotel até lá já foi suficiente para amar o lugar, pois a área é muito linda e bem cuidada. Por dentro, a casinha permanece praticamente igual que era na época em que o poeta vivia (pelo menos assim dizem os entendidos no assunto), seu quarto, sua salinha, sua biblioteca e uma mesa de pernas bem altas onde o poeta escrevia o tempo todo de pé, acreditem! Do lado de fora a paisagem também encanta, muitas árvores, muitas flores, muito verde… tudo tranquilo, uma atmosfera assim meio bucólica.

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Casa de Campo de Goethe
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Em um lugar assim nem tinha como não ter inspiração…

Outra coisa interessante de se ver em Weimar é a Biblioteca Anna Amália. Eu não dei muita sorte porque na época em que fui estava em processo de restauração, após ter sofrido um incêndio no qual perdeu aproximadamente 50.0000 títulos, dois quintos de seu espólio. Mas quem for por lá agora não pode perder a oportunidade de visitá-la, deve ser uma maravilha adentrar um local onde estão guardadas obras importantíssimas da literatura. É também na Biblioteca Anna Amália que se encontra a primeira Bíblia traduzida por Lutero, que graça a Deus escapou do fogo.
No centro da cidade estão localizadas as duas maiores atrações: as casas principais onde viveram os poetas Goethe e Schiller. A casa de Schiller é bonita, mas não muito grande, tem uma fachada amarela bem chamativa e por dentro está decorada com réplicas no lugar dos móveis originais. Já a casa de Goethe impressiona não só pelo tamanho mas pela beleza e bom gosto. A casa era residência oficial do escritor que também exerceu os cargos de Ministro e diretor da Biblioteca Anna Amália. É mantida ainda com algumas peças originais, inclusive o quarto onde o poeta morreu, aos 82 anos, está completamente intacto. Hoje, ambas as casas funcionam como museus e estão abertas ao público diariamente.

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Casa de Schiller
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Casa de Goethe

Eu fui no verão, uma época com temperaturas agradáveis, as ruas estavam lotadas de turistas assim como de artistas, até peça teatral estava sendo encenada ao ar livre… Um charme!
O turista chega lá e não tem mais vontade de sair, acaba se entusiasmando e querendo ficar mais tempo que o previsto, que foi o meu caso.
Foi um passeio muito divertido. Eu recomendo pra quem gosta de literatura, pra quem gosta de arquitetura, pra quem gosta de História, pra quem gosta de Arte de um modo geral e pra quem gosta apenas de bater perna por aí.
Weimar é uma belezura de cidade, é tão tipicamente cultural que foi escolhida como Capital Europeia da Cultura em 1999.
*** Pessoal, quando eu digo que Weimar tem relação com o Romantismo estou me referindo ao fato de Goethe, um dos líderes do movimento romântico na Alemanha, ter vivido por muitos anos nessa cidade, razão pela qual eu fui visitá-la. Na verdade, Weimar foi o berço do Classicismo Alemão.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Pintor de Cracóvia

“Não sou responsável do aqui exposto. O copiei diretamente da vida.”

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Ultimamente tenho tido a sorte de fazer boas leituras. Coincidência ou não, têm caído em minhas mãos livros perturbadores e tocantes. Um desses livros é o Pintor de Cracóvia, que conta a história real de Joseph Bau, um sobrevivente do Holocausto.Durante a leitura o leitor se depara com uma história de guerra, de desumanidade, de injustiça e de miséria, mas também com uma história de força, de luta, de esperança e, sobretudo, com uma história de superação.
Além de contar detalhes de sua vida nas ruas de Cracóvia e os horrores da guerra do princípio ao fim, Bau conta-nos também sua linda história de amor: um amor sem limites, um amor incondicional.
Ele fala carinhosamente sobre Rebecca, uma moça que conheceu no Campo de Concentração de Plaszow, na Polônia. Conta o que sentiu quando a viu por primeira vez, de como se apaixonou por ela e de seu casamento clandestino dentro do próprio campo de concentração. Explica-nos como burlou a segurança para consumar o matrimônio no barracão das mulheres. Fala do medo que sentiu ao ser surpreendido por policiais alemães que puniam com violência qualquer tipo de contato sentimental entre um homem e uma mulher. Narra de forma sensível suas dores, seus amores e desamores.
O que mais me tocou na história de Joseph e Rebecca foi perceber que apesar da opressão e do pavor eles não sufocaram o amor que sentiam. Seus corações estavam vivos e apaixonados, o amor que eles viveram foi muito grande, muito maior que a crueldade do nazismo, muito mais forte que  o medo… E isso foi lindo.

“Nos casamos às escondidas no Campo de Concentração de Plaszow. Celebramos nossa boda no dia de São Valentino por casualidade, porque no campo não éramos conscientes de que era o dia internacional do amor.”

Bau sobreviveu ao Holocausto porque foi trabalhar para Oskar Schindler. Rebecca, que havia sido selecionada para trabalhar na empresa de Oskar, por amor ao marido pediu que seu nome fosse substituído pelo dele. Depois que Joseph partiu, Rebecca Bau foi enviada para Auschwitz, um dos campos de concentração mais temidos. Em Auschwitz a escolheram três vezes para ingressar na câmara de gás, durante as três vezes ela conseguiu uma forma de se salvar.

 
silencio
O mundo se calou!

Joseph Bau escreveu este poema para Rebecca pouco antes da separação:

La Despedida
Aunque nuestra vida juntos fuera muy corta
Ahora debo partir
Me voy triste y desolado
hacia un destino dispuesto
por estos tiempos desesperados
por un camino sin señalizar
Hacia un destino burlón.
todo está preparado pra darme la bienvenida.
Me voy, pero cuando las puertas se cierren tras de mí
y reine un silencio momentáneo,
cuando el tiempo erosione mis huellas,
no pienses en mi con pesar,
porque atrás dejo muy poco:
el corazón de un poeta chiflado,
unas cuantas cartas, algunas odas dedicadas a ti,
una flor marchita y los sueños que soñamos
sobre los días que pasaríamos juntos,
y planes que, ai de mi, no se hicieron realidad
Recuerda nuestra casa soñada,
la que nunca fue,
tu despacho y el mio?
Querido Dios, por que no puedes ser amable?
Pero si, como predije, las cosas cambian,
y si los recuerdos perviven en tu mente,
piensa en mí a menudo,
sin la pena que ahora nos abate
Nuestros caminos volverán a cruzarse.
Entonces… por qué lloras?
No llores más, nos estés triste…
Porque, mira, yo también resisto…
Bueno, adiós, hasta la vista!
Dame otro beso y otro abrazo
y cuidáte,
mi amor querido y sagrado.

A narrativa de Joseph tinha tudo para ser apenas mais um relato triste, como muitos já conhecidos, mas não é. Sua história de vida durante esse período negro da História tocou-me profundamente n’alma.
Além de nos emocionar com sua narrativa tão sensível, Bau também nos presenteia com vários desenhos de sua própria autoria.


Sobre o autor:
 
bau

Joseph Bau nasceu em Cracóvia em 1920. Em 1950 emigrou para Israel, onde abriu seu próprio estúdio. Trabalhou em muitos filmes de animação chegando a ser conhecido como o Walt Disney israelita. Morreu em 2002.
** Não sei se o livro foi publicado no Brasil. O título original é Dear Got, Did You Ever Gone Hungry?
A poesia transcrita acima está tal qual encontrei no livro, infelizmente não tenho capacidade para traduzi-la, até porque acho que um poema quando traduzido perde muito de sua beleza e lirismo.

domingo, 29 de setembro de 2013

Pátria é a casa da gente...

patria é a casa da genteO título do post de hoje eu retirei de uma obra muito importante da literatura brasileira: O Tempo e o Vento, deErico VeríssimoNão, eu nunca li esses livros na íntegra(finalmente, em 2015, eu consegui concluir a leitura dos seis volumes de O Tempo e o Vento. Caso você queira conhecer minhas impressões de leitura, é só clicar aqui) mas assisti à minissérie baseada na obra, exibida há muitos anos na TV aberta do Brasil. Na época da minissérie, quando ouvi a frase pela primeira vez, eu ainda era muito menina e não entendia muito bem o que o autor estava querendo dizer. Mas suas palavras foram tão marcantes que vezes sem conta voltavam à minha memória. Quando eu lia essa frase pensava assim: Pátria é a casa da gente… E se a gente morar na China, por exemplo? Hoje, eu realmente moro na China, e posso dizer que as palavras de Érico Veríssimo começaram finalmente a fazer sentido pra mim. Provavelmente o significado que eu atribuí a elas nada tem a ver com o que o autor quis dizer realmente, mas eu sou daquelas que pensa que uma vez que o escritor escreveu e publicou sua obra, o que ele quis dizer acaba se perdendo um pouquinho, e o leitor tem todo o direito de interpretar como melhor lhe convém. E eu fiz exatamente isso, interpretei do meu jeito.
Essa introdução toda é apenas pra dizer que por muitos anos eu vivia fora do Brasil como se ainda vivesse dentro. Morava no país dos outros mas achava que eu não devia me apegar a nada nem a ninguém. Reclamava de tudo e de todos, comparava tudo e todos, nunca estava satisfeita com nada… achava que eu estava ali apenas passando uma chuva e que, mais dia menos dia, voltaria para minha pátria.Hoje, quase 18 24 anos após ter saído do meu país de origem, posso dizer que muitas coisas passaram, muitas águas rolaram e eu aprendi, não sem quebrar a cara algumas vezes, a valorizar o que tenho de melhor no país onde vivo. Não estou livre de ficar nostálgica e fazer vez ou outra pequenas comparações, mas aprendi, sobretudo, a olhar muito mais para as coisas bonitas que para as feias. Obviamente que sinto muita saudade e necessidade de ter mais contato com a minha minha gente e com a minha cultura. Por isso, sempre que vou ao Brasil desfruto muitíssimo e volto renovada. Porém, sei que é aqui – atualmente do outro lado do planeta – que estou bem… É aqui, onde vivo, onde crio os meus filhos (os filhos já estão praticamente criados e atualmente já moram sozinhos), onde durmo e acordo, que é o lugar onde me sinto em casa. Durante todos esses anos vi e ouvi muita gente se queixando do clima, da comida, das pessoas e de tudo que encontram pela frente. Moram fora do seu país de origem, mas querem continuar a viver como se ainda estivessem dentro. Relutam em se adaptar, querem ter contato apenas com brasileiros, ouvir apenas música brasileira, comer apenas comida brasileira, falar apenas português… Ou seja, querem viver como se estivessem em um gueto. Eu até entendo, porque no início também fui um pouco assim (quem não?), mas quando me dei conta de que isso dificultava a minha adaptação no novo país, fui modificando minhas atitudes pouco a pouco.
Felizmente, depois de muitas andanças por esse mundão de meu Deus, pude entender que sou eu quem vive no país alheio, portanto sou eu quem deve procurar se adaptar aos novos costumes e modo de vida. Não são eles, os nativos, que devem mudar seus hábitos para melhor se enquadrar comigo.
É claro que não devemos esquecer nossos costumes e nossas origens. Devemos sim valorizar nossa cultura, mas temos que saber também que para crescer no país onde vivemos é necessário abrir a cabeça para o novo. Eu sei que às vezes é difícil, muito difícil mesmo, sobretudo quando moramos em um país muito diferente do nosso, mas não é impossível, acreditem! Eu creio que aceitar e respeitar as coisas que são distintas daquelas que estamos acostumados é o primeiro passo para uma melhor adaptação. 
Eu tento me esforçar bastante para entender a cultura dos lugares nos quais vivo, porque sei que por mais ruim que seja sempre vai a haver a parte boa, a parte bonita, nós só precisamos mesmo é aprender a distingui-la e a valorizá-la quando a encontrarmos. Uma vez feito isso, viver no exterior torna-se mais fácil. 

Além disso, o mais importante pra mim é mesmo a minha casa, que eu considero o melhor lugar do mundo. Acho que por isso gosto tanto dessa frase de Érico Veríssimo, porque na minha cabeça remete à família. É na minha casa que consigo relaxar, usufruir do carinho dos meus e me desmoronar quando é preciso… É nela que, quando triste, encontro um lugar quentinho e aconchegante pra sentar e espantar a tristeza. É nela que quero ficar quando bate aquela vontade incontrolável de estar em um cantinho só meu. A minha casa é onde me sinto segura, pra onde sempre quero voltar independente do continente onde esteja localizada.

A vontade de escrever este texto surgiu depois de conversar com uma pessoa que mesmo morando há muitos anos em Hong Kong não consegue se adaptar nem com reza brava. Ela não gosta de absolutamente nada e taxativamente diz que não precisa gostar, que não quer gostar mesmo e pronto. Então, a tendência é reclamar de tudo e só apontar e evidenciar as coisas ruins. Não dá nenhuma chance pra cidade, não tenta colocar um olhar livre de julgamentos e críticas diante das coisas que há por aqui. Se toma um café é ruim, se come um bolo não presta, se pede um prato de comida é fedido, o apartamento no qual mora é o pior que já teve na vida, se a pessoa com a qual fala não consegue responder em inglês chama de burra (esquecendo que Hong Kong também é China e que por estas bandas o cantonês é idioma oficial). 
Por mais que se diga: não é tão ruim assim… Arruma tu casa, deixa do jeitinho que você gosta, mesmo que na rua aconteçam coisas que não são do seu agrado quando você voltar e encontrá-la com a sua cara até esquece o lugar onde está morando. Mas não adianta! 
Eu nunca a ouvi elogiar alguma coisa ou dizer q gostou de algo. Caramba, isso é triste e desalentador. Eu sei, há costumes e manias que nós não somos obrigados a gostar e tomar como hábito para nós. Há milhares de coisas aqui que não me agradam, há inclusive aquelas que não podemos e nem precisamos aprender – eu pelo menos não preciso e nem quero -, mas não custa nada pelo menos tentar entender e respeitar essa diferença cultural. Eu tenho certeza que com um pouquinho de esforço e boa vontade é possível perceber mais coisas boas que ruins, mas pra isso há a necessidade urgente de QUERER enxergar a vida em Hong Kong com um olhar livre de preconceito.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

De castelo em castelo...


Nas minhas férias de julho do ano passado dei uma passadinha em Castilla y León, na Espanha. Mesmo já tendo morado por alguns anos na terra de Cervantes, nunca tinha estado nessa parte do país. Aproveitei, então, para fazer meus passeios básicos por algumas cidadezinhas da região e conhecer algumas construções históricas que há por lá, que não são poucas. Aliás, a maior concentração de castelos existentes na Espanha se encontra justamente em Castilla y León – e a maioria deles tem um valor histórico altíssimo.
Entre os passeios que fiz o que mais gostei foi a excursão Rota dos Castelos. Trata-se de um percurso interessantíssimo que se pode fazer comodamente de carro, parando em cada um dos castelos existentes na região. É um passeio incrível, recheado de história, encanto e beleza. Saí de Palência em direção a Madrid e fui fazendo as paradas que julguei necessárias para conhecer algumas das construções. Não vou mencionar todos os edifícios que fazem parte dessa rota, mas gostaria de chamar a atenção para dois deles:
O Castelo de Coca, uma construção do século XV, considerada uma das fortalezas mais imponentes de toda Castilla y León e, na minha opinião, a atração do passeio. Está localizado na cidadezinha de Coca, Província de Segóvia. Foi construído em 1543 tendo como responsável o arcebispo Alonso Fonseca. É todo feito de tijolos e ladrilhos seguindo o estilo gótico-mudéjar. Os ladrilhos dão um aspecto bastante bonito na fachada e o diferencia dos outros, além disso é cercado por um fosso bastante profundo que aumenta ainda mais sua beleza. Pertence à Casa de Alba, porém foi cedido ao Ministério de Agricultura e hoje abriga uma escola de Silvicultura e um Museu de Esculturas de Madeira Românica. Em 1931 foi declarado Monumento Nacional.


Castelo de Cuéllar é outro monumento imperdível. Localiza-se na cidadezinha de Cuéllar, província de Segóvia. Passou por várias transformações no decorrer dos séculos tanto em relação ao estilo arquitetônico quanto à sua ampliação. Foi sendo transformado pouco a pouco até virar um suntuoso palácio, com misturas de vários estilos arquitetônicos dos séculos XIII ao XVIII, sendo que os predominantes são o gótico e o renascentista.
O castelo foi palco de vários acontecimentos históricos e recebeu hóspedes ilustres. No final do século XIX foi praticamente abandonado e mais tarde transformado em um local destinado a presos políticos; chegou até mesmo a possuir um hospital para doentes da tuberculose, funcionando dessa forma até 1966. É propriedade dos Duques de Albuquerque, mas está cedido ao Ministério de Educação e Cultura. Hoje, funciona como um Instituto de Educação Secundária.







Durante os feriados se realizam visitas guiadas teatralizadas conhecidas como O Castelo Habitado, no qual artistas se transformam em personagens que habitaram o local, são justamente esses personagens que apresentam o castelo ao público. Infelizmente no dia em que estive por lá não foi possível presenciar nenhuma visita guiada.
O castelo foi declarado Monumento Histórico em 1931. O mais interessante do passeio fica por conta dos detalhes da arquitetura, da comparação que é possível fazer entre uma construção e outra (quem entende disso, é claro, não é o meu caso!) e da vista que se pode ter a partir dos monumentos.

Sair me metendo nos lugares mais escondidinhos pra conhecer, fotografar e, principalmente, para aprender um pouco sobre a história local é a parte que mais gosto. Pra quem também curte esse tipo de atividade, a Rota dos Castelos é uma boa pedida, sobretudo pra quem gosta de História e  prédios da Era Medieval.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Eu sublinho passagens de livros...

O filho de mil homens - pag 227
Sim, eu costumo rabiscar meus livros. Aqueles trechos que tocam e chamam bastante a minha atenção eu marco com lápis, com canetinhas coloridas, com adesivos, enfim, deixo o dito cujo com a minha cara.
Tem gente que não gosta, que acha um desrespeito com o livro e tal... Eu até entendo, mas não consigo parar, é mais forte que eu! Já tentei usar um caderninho pra anotar os trechos que considero especiais mas não funcionou da mesma forma. Gosto mesmo é de abrir um livro tempos após a leitura e encontrar nele a minha marca.

Decidi transcrever  e compartilhar com vocês alguns dos muitos trechos que tenho sublinhados.
Trecho 1:


"Os filhos, pensava ele, são modos de estender o corpo e aquilo a que se vai chamando alma. São como continuarmos por onde já não estamos e estarmos, passarmos a estar verdadeiramente, porque ansiamos e sofremos mais pelos filhos do que por nós próprios, assim como nos reconfortam mais as alegrias deles do que a satisfação que directamente auferimos. Por isso temos gula pelos filhos, uma gula do tamanho dos absurdos, sempre começada, sempre incontrolável. E queremos tudo dos filhos como se nunca nos bastassem, nunca nos cansassem porque, ainda que nos cansemos, estamos incondicionalmente dispostos a continuar, uma e outra vez até que seja o corpo extenuado a desistir, mas nunca o nosso ímpeto, nunca o nosso espírito. Até porque desistir de um filho seria como desistir do melhor de nós próprios. Cada filho somos nós no melhor que temos para dar. No melhor que temos para ser." (O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe)

E você, tem alguma mania ou ritual de leitura?

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Aquela voz inconfundível...

Uma das muitas lembranças que guardo carinhosamente da minha infância é a do meu tio-avô. Lembro-me, sobretudo, de sua voz forte, marcante e de seu acentuado sotaque maranhense.
O velho Jaime, irmão de minha avó materna, vivia em um povoado chamado São Benedito, embrenhado nos confins do Maranhão. Apesar de nunca ter colocado os pés em dito lugar, quando falo dele me parece tão familiar que é como se eu o conhecesse, deveras!
Lembro-me que ele fazia o percurso de sua casa até à casa de minha avó a cavalo - e na época do inverno (no Maranhão, naquele tempo, essa estação era marcada pelas chuvas constantes e pelos rios que se formavam mata adentro), os caminhos ficavam muito difíceis, por causa disso vô Jaime tinha que madrugar, atravessar igarapés, viajar praticamente o dia inteiro para chegar a Santa Helena, vilarejo onde vivia minha avó. Mas, quando chegava, quase sempre à noite, ninguém mais dormia, porque ele tinha causos pra contar... Era história pra mais de légua!!
Fosse a hora que fosse, minha avó levantava, acendia o fogão a lenha e preparava um bom rango... e eu sabia que durante os dias em que ele ficasse por lá não haveriam broncas nem castigos. Ahhh, era tão bom ser criança!

Murici
Outra coisa que muito me lembra meu tio-avô é murici, uma frutinha miúda, amarela, muito comum no Maranhão, usada para fazer suco, que minha avó chamava vinho. Vó Jaime chegava com uma carga de murici, pra felicidade geral da garotada. Até hoje consigo me lembrar com grande exatidão dessa fruta, apesar de nunca mais tê-la provado ainda levo comigo seu sabor e aroma.

Eu não consigo lembrar muito bem quando vi vô Jaime por última vez, acho que tinha uns 16 anos aproximadamente, em uma das muitas viagens de férias que fiz pra casa de minha avó. A imagem que me vem à memória agora é a dele sentado à mesa, comendo qualquer coisa e tomando café com farinha d'água. Jaime falava, falava e falava... com aquela voz inconfundível, aquela voz que quando ouvia, nas madrugadas de minha infância, levantava correndo. Aquela voz que nunca esqueci e que seria capaz de reconhecer em qualquer lugar, de olhos fechados.
A noite passada sonhei com Jaime, me deu uma saudade imensa de tudo que vivi nos tempos de outrora. Ainda bem que as coisas boas a memória registra e não nos permite esquecê-las. Acordei melancólica e levantei saudosa, me veio à cabeça aquele lindo poema de Casimiro de Abreu, Meus oito anos, que tem tudo a ver com o que estou sentindo hoje: Nostalgia!
Nostalgia dos bons tempos, tempos esses que passaram e que, infelizmente, não voltam mais.

Um trechinho do poema de Casimiro:

Oh! Que saudade que tenho,
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sheung Yiu, o vilarejo abandonado!

Finalmente fui conhecer Sheung Yiu - um vilarejo fundado no final do século XIX por membros da família Wong. A família Wong, que pertencia ao grupo étnico Hakka, abandonou seu lugar de origem na província de Guandong e se estabeleceu por aqui, pertinho do grande Parque Natural Pak Tam Shung, nos Novos Territórios, e montou uma pequena venda para ganhar a vida fornecendo mantimentos aos moradores locais e viajantes que passavam pelo lugar. 
Como o negócio começou a dar bastante lucro, decidiram construir o vilarejo para abrigar tanto a casa da família como a dos empregados - eles chegaram a ter mais de cem trabalhadores.

Paisagem em Sheung Yiu
Ruina de uma das casas da família Wong

Sheung Yiu  ocupava uma área de cerca de 500m e foi construído sobre uma plataforma de aproximadamente dois metros de altura. Essa altura servia não apenas para proteger as casas de inundações mas também de possíveis invasores. Composta por uma série de oito casas, cozinhas, chiqueiros e estábulos, o vilarejo também teve em seu tempo um espaçoso pátio aberto - uma área de lazer comum, onde banquetes eram realizados e os grãos eram torrados e secos.
O centro de cada casa foi reservado para a sala de estar, tinha uma decoração simples com mesas e bancos de madeira, bem como troncos e caixas para armazenamento de produtos alimentícios; a parte de baixo desse espaço era usada para jantar e fazer recepções para os visitantes, já a parte de cima servia como quarto e despensa.


Interior da casa: sala de estar e quarto

Objeto de trabalho da família Wong

Casa principal
Sheung Yiu Folk Museum

Além de trabalhar com a pesca e a agricultura, a família Wong prosperou mesmo foi trabalhando com artesanatos tradicionais, como a fabricação de cal, tijolos e telhas para uso na construção. A região era muito rica em corais, pois Sai Kung, uma praia nas proximidades do vilarejo, fornecia recursos abundantes para a fabricação desses produtos - que os Wong souberam aproveitar ao máximo.
Com o passar dos anos e o aumento da produção de cimento e tijolos nas grandes fábricas, o vilarejo foi perdendo sua clientela e declinando. Na década de 1950 os moradores de Sheung Yiu começaram  a sair e procurar as áreas urbanas para ganhar a vida, e por volta de 1960 a aldeia já tinha sido completamente abandonada. Em 1981, o Governo declarou o vilarejo como monumento histórico, e começou o trabalho de restauração para desenvolver a área para o Sheung Yiu Folk Museum.



Perdendo a timidez e postando minha primeira foto no blog

Hoje, o vilarejo não é mais o que era na época da família Wong, a única coisa que ainda resta é a casa principal que foi transformada em museu, todas as demais são apenas ruínas.

O mais legal de fazer uma visita ao vilarejo de Sheung Yiu foi poder unir duas atividades que gosto muito:
1- Trilha - adoro andar dentro do mato... Para chegar a Sheung Yiu foi preciso fazer uma caminhada de aproximadamente 30 minutos por dentro do parque natural Tam Tak Chung. O percurso, apesar das muitas subidas e descidas é fácil de fazer, até mesmo pra mim que não tenho muita energia pra subir ladeira. As paisagens e as variadas espécies de plantas que encontrei pelo caminho deixam o percurso bem interessante e divertido.
2- Atividade Cultural - visitar o museu foi uma delícia, apesar de pequeninho é bem organizado, recria a atmosfera da época em que a casa era habitada pela família Wong. Além disso, é exibido um vídeo que conta toda a história do vilarejo desde sua origem.

O museu está aberto ao público desde 1984, com exceção das terças-feiras, abre todos os dias das 10h às 17h. A entrada é franca!.



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida...

“Toda mulher que já teve um bebê sentiu dor, e as mães de menininhas têm o coração cheio de tristeza.”

mensagem de uma mae

Logo que terminei a leitura de Xu Xiaobin, A Serpente Emplumadaquis dar continuidade a minha empreitada de conhecer mais a fundo a literatura chinesa. Pesquisei sobre vários livros e decidi ler Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, de Xinran. A história tocou-me bastante, provavelmente por trazer relatos reais de mulheres chinesas que devido aos percalços da vida precisaram abandonar suas filhas à própria sorte. Os depoimentos são tão reveladores que não tem como lê-los sem sentir um nó na garganta, sem imaginar como reagiríamos caso fosse conosco. Não tem como não nos colocarmos no lugar dessas mães e sofrermos com elas. Confesso que por vezes chorei… É triste, muito triste!
Xinran começa nos explicando o porquê de haver na China tantas meninas orfãs. Ela diz que isso acontece, “em primeiro lugar, porque é um costume arraigado na cultura do povo, pois desde os tempos antigos bebês do sexo feminino são considerados inferiores e abandonados em comunidades rurais do oriente; em segundo lugar, porque há uma combinação de ignorância e liberdade sexual; e por último, por causa da existência da política do filho único.”
Nas zonas rurais, onde os habitantes tiravam o sustento de métodos mais primitivos como a agricultura e a pesca, a preferência por crianças do sexo masculino era mais comum; por causa de sua força física e capacidade para trabalhos pesados elas eram mais desejadas. Além disso, a tradição que diz que apenas o filho homem tem o direito de herdar o nome do clã, que apenas ele pode dar continuidade a linhagem familiar e acender o incenso no altar dos ancestrais, fez com que algumas pessoas, sobretudo aquelas com pouca ou nenhuma instrução, começassem a abandonar ou asfixiar a criança logo após o nascimento, caso fosse menina.
Eu já tinha escutado falar sobre a desvalorização da criança do sexo feminino na China, mas a verdade é que nunca havia entrado em contato com histórias que me revelassem de fato como tudo acontece. Todas as vezes que tomei conhecimento de algum caso de abandono de menininhas, achava que os pais faziam isso por falta de compaixão, por falta de amor propriamente dito; hoje, após ler o livro de Xinran e conhecer as circunstâncias que levaram muitas mães ao ato de abandonar suas meninas, compreendi que elas agiram assim mais por falta de opção que por falta de amor.
Muitas mães, por conta do abandono de suas filhas, acabaram tristes, deprimidas, algumas enlouqueceram, outras, se suicidaram. Após ler todos esses relatos, o sentimento que restou é o de completa tristeza.
A autora de Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida recebeu inúmeras cartas de meninas que foram adotadas por famílias estrangeiras; essas meninas têm suas vidas repletas de dúvidas, por isso muitas mães adotivas aproximaram-se da literatura de Xinran em busca de respostas para os questionamentos das filhas. Dentre todas as perguntas que foram feitas a Xinran, a mais recorrente foi: Por que minha mamãe chinesa não me quis? No livro, a autora tenta responder à pergunta e mostrar para essas meninas chinesas – que perderam suas mães biológicas – o quanto essas mães sofreram e o quanto elas as amavam.
No final, a autora ainda pergunta: com todas as dramáticas mudanças pelas quais a China passou, será que as mulheres que pela tradição foram forçadas a abandonar suas menininhas terão algum dia a chance de abraçá-las novamente?
Adoraria acreditar que sim!

“Uma mulher era como um seixo desgastado e arredondado pela água e pelo tempo. Nossa aparência externa é alterada pelo destino que nos cabe na vida, mas água alguma poderia alterar o coração da mulher chinesa e seus instintos maternos.”

Sobre a autora:


xinran



Xinran é uma jornalista e escritora chinesa. Nasceu em Beijing, em 1958. Em 2004 fundou uma ONG, The Mother’s Bridge of Love, que busca auxiliar órfãos chineses e estreitar a compreensão entre Ocidente e China.