segunda-feira, 29 de julho de 2013

Conhecendo um pouquinho da arte russa...

Acho que já comentei em outro post que adoro Hong Kong pela variedade de programas culturais que oferece aos moradores e visitantes, né? Aqui, quem quer vai encontrar coisas novas e interessantes para fazer todo dia, porque atividades culturais não faltam. Até quem não quer gastar muito pode se dar ao luxo de fazer esse tipo de programa, já que alguns museus em Hong Kong reservam um dia da semana pra receber visitantes de forma gratuita.

Falando em atividades culturais, há alguns meses chegou em Hong Kong a exposição Fabergé, Legado da Rússia Imperial e eu, curiosa que sou, fui lá dá uma olhadinha.

Os ovos de Páscoa de Fabergé foram sem dúvida o destaque da exibição, mas além deles foram trazidas também muitas outras obras de arte e peças raras, como jóias, metais preciosos, pedras e peças sacras. A exposição foi linda, totalizou mais de 270 itens que foram emprestados da coleção dos Museus do Kremlin de Moscou.
Eu já conhecia de perto alguns desses ovos, pois já os tinha visto em outra exposição em São Paulo e, apesar de ter achado a exposição daqui inferior à de Sampa, ainda assim achei que valeu a visita, pois os objetos exibidos são lindos e valem todo o tempo que se gasta para admirar cada um deles. 


Ovo de Páscoa de Fabergé


O Kremlin de Moscou/Ovo de Páscoa


Peter Carl Fabergé

Sobre o autor das peças eu pouco sabia a respeito, já havia pesquisado um pouquinho sobre ele anos atrás quando fui à exposição em São Paulo, por isso acho que a exposição aqui em HK foi uma oportunidade pra conhecer mais sobre esse artista. Peter Carl Fabergé foi um mestre joalheiro e ourives, uma figura muito importante na ascensão do artesanato de jóias no final do século 19. Embora a fama da Casa de Fabergé tenha desaparecido por um tempo após a eclosão da Revolução Russa, o seu renome mundial persistiu graças às obras fabulosas que produziu.
Dos inúmeros itens que Farbegé criou para a corte russa, os ovos imperiais de Páscoa são, sem dúvida, o que chama mais a atenção.



Casket Box



Transiberiano/Ovo de Páscoa


O nome Fabergé é geralmente associado aos ovos imperiais de Páscoa criados para a família real russa. E
apesar de serem obras-primas da arte do joalheiro, esses ovos representaram apenas uma pequena parte da coleção do artista. O sucesso de Fabergé veio de sua dedicação ao inovar e abrir a mente para combinar e abraçar o artesanato e as técnicas de diferentes formas e estilos artísticos. Além disso, ele estabeleceu uma base sólida para a indústria joalheira da Rússia no final do século 19 ao início do século 20, dando origem a um grande número de renomados artesãos e mestres de jóias.
Como a Páscoa é o feriado mais importante do calendário ortodoxo russo, a Casa de Fabergé começou a fazer ovos como presente para os nobres. Estima-se que entre 1885 e 1917 mais de cinquenta ovos de Páscoa foram criados para a família real. 
Alguns desses ovos desapareceram após a Revolução de 1917, e entre os quarenta e dois que permaneceram, dez deles são armazenados na câmara do arsenal do Kremlin de Moscou.
Na exibição em Hong Kong foram trazidos apenas quatro - poucos é bem verdade - mas de uma beleza sem igual.




segunda-feira, 15 de julho de 2013

1Q84 - Mais um de Murakami!

“Não se esqueça do que lhe digo: as coisas não são o que parecem.”






Acho que não é mais novidade para ninguém que eu gosto pra caramba do escritor japonês Haruki Murakami. Até agora todos os livros dele que li, de uma forma ou de outra, me agradaram. Por isso, quando escutei falar sobre o lançamento de 1Q84, seu novo livro, fiquei morrendo de vontade de lê-lo.
Quando comecei a leitura eu nada sabia sobre o enredo, evitei até mesmo bisbilhotar resenhas e comentários a respeito para não saber detalhes que pudessem comprometer minha leitura. Por um lado isso foi bom, pois fui surpreendida pelos acontecimentos à medida que me envolvia com os personagens. Mas por outro, foi ruim, já que eu não sabia que a história é longuíssima, que a edição em português está dividida em três volumes e que não é possível lê-los de forma independente. Resulta que fui ficando cada vez mais envolvida com o tema e cada vez mais curiosa para saber o desfecho, mas, para minha surpresa, o primeiro livro terminou deixando um monte de perguntas sem respostas. Então, não teve outro jeito, foi preciso encarar os dois volumes restantes.

A história se passa em Tóquio, em 1984. Logo no início conhecemos os dois personagens principais: Aomame eTengo. Ela, uma mulher bonita, independente, professora de ginástica e assassina profissional, uma espécie de justiceira dos fracos e oprimidos. Ele, professor de matemática e aspirante a escritor.




1Q84 3
É o mundo real, onde os cortes fazem correr sangue real, onde a dor é verdadeira e a dor é dor real. A lua no céu não é de papel. É uma lua real, são duas luas reais.



Com uma narrativa fantástica, Murakami cria um mundo paralelo a 1984, o qual chama 1Q84. Esse título é, na verdade, uma homenagem ao livro 1984, do escritor George Orwell. Nesse mundo completamente novo há duas luas – uma grande e outra pequena – flutuando lado a lado no céu. Existe também um tal de Povo Pequeno que domina as pessoas aí nesse mundo paralelo. O Povo Pequeno criou uma crisálida de ar que por sua vez teve sua história transformada em livro por Fuka Eri, uma escritora adolescente e disléxica. O livro de Fuka Eri apesar de ter um enredo envolvente é muito mal escrito. Precisa, portanto, ser corrigido para poder participar e ter a chance de ganhar um importante prêmio literário. É aí que entra Tengo, o nosso aspirante a escritor, que tem como principal função reescrever o livro da adolescente disléxica.
A trama criada por Murakami mistura-se àquela criada por Fuka Eri, e todos aqueles componentes fantásticos que bem no início nos pareceram bastante bizarros, começam a fazer mais sentido. 1Q84 tem um enredo que desperta interesse, personagens bem desenvolvidos, sinistros e solitários. Murakami criou um mundo em que a fronteira entre o real e o imaginário é completamente imprecisa. Ele ousa, mistura fatos reais com ficção, tornando assim a narrativa ainda mais instigante e enigmática… E o leitor fica a princípio um bocado confuso, meio sem saber onde e quando acaba o Tóquio de 1984 e começa o de 1Q84.
Há também a relação amorosa entre Aomame e Tengo, que foram colegas de escola quando crianças, mas que ficaram quase duas décadas sem saber nada um do outro. Aliás, a parte mais esperada por mim foi justamente o reencontro deles. Fiquei durante toda a leitura desejando que isso acontecesse para saber o que passaria depois, pois os caminhos de ambos os personagens estão interligados desde o início da história e estão também altamente relacionados com os acontecimentos sinistros do livro. 1Q84 é uma ficção interessantíssima e inteligente que faz com que não tenhamos vontade de parar até sabermos em qual dos mundos os personagens estão de fato a viver.



Que sentido faz continuar a viver completamente sozinha num mundo absurdo… um mundo com duas luas, uma grande e uma pequena, e onde seres que fazem parte de um tal Povo Pequeno controlam o destino dos humanos?


A leitura foi muito agradável, mas vou confessar pra vocês, depois de dois volumes de quase 500 páginas cada um, comecei a achar que o autor estava a dar voltas e mais voltas sem chegar a lugar nenhum. Quando comecei o terceiro volume já estava um pouco cansada, percebi que nada avançava, que o autor estava meio que ‘enchendo linguiça’. No terceiro livro, além dos dois personagens principais, Aomame e Tengo, velhos conhecidos do leitor desde o início da trama, aparece um terceiro personagem, o sinistro e misterioso Ushikawa. Deu-me a impressão de que o autor colocou este personagem extra exatamente para dar uma animada na narrativa, que já havia ficado bastante repetitiva. E foi, de verdade, uma jogada de mestre, porque ele conseguiu recuperar o meu interesse.
O terceiro volume foi de fato o que menos gostei. Apesar de ter gostado do tema, apesar de achar que este escritor tem uma grande capacidade de criar enredos criativos e personagens bem construídos e interessantes, dessa vez o autor esticou a trama além da conta. A história estaria perfeita com apenas dois volumes, porque no final das contas acabaram ficando várias informações completamente perdidas e sem relevância nenhuma para o desfecho. Mesmo assim, com todas as suas imperfeições, esse autor consegue me agradar a cada livro. Gostei!
E Murakami continua narrando exageradamente bem as cenas de sexo, mais explicadinho impossível. Após ler 1Q84 cheguei à conclusão de que o erotismo exacerbado é realmente um tema recorrente na literatura desse japonês fora de série.

Sobre o escritor:

Murakami nasceu em Kioto, em 1949. É um dos autores japoneses de maior prestigio, com grandes vendas tanto no Japão como no exterior. Ganhou vários prêmios, entre eles o Tanizaki, Yomiuri, Franz Kafka e Frank O’Connor. Recebeu elogios da crítica por todos os seus títulos, entre eles Norwegian Wood e Kafka à beira-mar. Possui um estilo único, sua obra é referência da literatura do século XXI.

Como música também não pode faltar em um livro de Murakami, deixo aqui um vídeo da Sinfonietta de Janácek, canção que o autor menciona bem no comecinho da história. Para mim, virou trilha sonora.