quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Os livros que li...

“O verdadeiro analfabeto é aquele que saber ler, mas não lê.”
— Mario Quintana

mafaldaFaltam ainda doze dias para terminar 2017, mas eu já sei que não lerei mais nada até o último dia do ano. Assim sendo, posso dizer que não consegui finalizar a meta que sempre determino para mim: ler pelo menos doze livros no decorrer do ano.
2017 foi muito conturbado, cheio de responsabilidades, grandes decisões e problemas maiores ainda, por conta disso faltou cabeça para a leitura. Eu consegui, aos trancos e barrancos, finalizar apenas onze livros. Mesmo assim, posso dizer que gostei de tudo que li.
Quatro desses onze livros foram releituras:
– Meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos: um queridinho capaz de me fazer rir e chorar todas as vezes que entro no universo do menino Zezé.
– El Cruzado de Stephen Rivelle: um livro que já me fez viajar várias vezes de Provença a Jerusalém naquela que teria sido a Primeira Cruzada, lá nos primórdios do século XII.
– Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez: porque a triste história dos Buendía e de Macondo mora no meu coração.
– História de uma serva  de Margaret Atwood: um livro excelente, mas que serviu também para me fazer perceber que uma série de tv inspirada em um livro pode ser às vezes até melhor que o próprio livro. Leiam o livro, mas quando puderem assistam também à série, é mesmo ótima.
Sobre as leituras novas:
– Iracema de José de Alencar: porque fiquei tocada com o samba-enredo que a Beija-Flor de Nilópolis levou para a avenida no carnaval passado. Decidi encarar a leitura e terminei amando a história da virgem dos lábios de mel. (Obrigada Sergio e Silvania por terem me levado à Sapucaí… Foi tudo tão bonito! )
– Passaporte para a China: porque é de Lygia Fagundes Telles e pra mim tudo o que ela escreve vale a pena ser lido.
– Diário de um louco de Lu Xun: porque foi-me apresentado pelo meu filho… e eu não podia ignorar um indicação literária de meu filho, né?! Fui conhecer esse escritor chinês e gostei.
– A filha perdida de Elena Ferrante: é um livro que incomoda, por causa dessa leitura tive vontade de ler a Série Napolitana, que todo mundo por aí já leu, menos eu.
– Um gato de rua chamado Bob de James Bowenfoi a primeira leitura do ano, se puder escolher uma palavra para defini-lo é: fofo.
– As Miniaturas de Andreia del Fuego: posso dizer que essa mulher escreve bem pra caraca, mas eu não consegui perceber muito bem o que ela quis dizer. Esse livro é um bocado perturbador e pede uma releitura em um momento de mais tranquilidade. (Obrigadinha sobrinha Claudia Pacheco pelo presente )
Por último, À sombra da Figueira de Vaddey Ratner: foi de grande ajuda para a viagem que fiz para o Camboja, em novembro. Pude entender muita coisa a respeito do povo cambojano que, apesar de sua triste história, não se deixa abater tão facilmente. É um livro triste que só. Dói na alma.
Espero que 2018 seja um ano muito melhor, melhor em todos os sentidos, com mais literatura e menos perrengues. 

segunda-feira, 26 de junho de 2017

O holocausto tão pouco conhecido...

“Primeiro levaram os negros, mas eu não me importei com isso, eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso, eu não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados, mas como eu tenho meu emprego, também não me importei. Agora estão me levando, mas já é tarde, como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.” (Bertolt Brecht)

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Quem aí aprendeu na escola algo relacionado ao Massacre de Nanquim? Eu, pelo menos até vir morar na China, não tinha escutado nada sobre isso. Conheci essa parte horripilante da História por meio de livros de alguns escritores chineses que li.
Sempre tive interesse em ler livros que me levassem a aprender algo mais sobre o mundo. Confesso, no entanto, que saindo da ficção e passando para algo mais verídico alguns fatos causam-me muita impressão. Já tinha tido uma experiência bastante perturbadora anos atrás quando visitei um campo de concentração da Segunda Guerra Mundial: Buchenwald, na Alemanha. Lembro-me bem que quando saí de lá jurei para mim mesma que nunca mais voltaria a colocar os pés em um lugar assim, porque a sensação que tive foi completamente angustiante, triste e, acima de tudo, vergonhosa.
Os anos passaram e eu decidi visitar outra vez um lugar bastante parecido com Buchenwald: o Museu do Massacre de Nanquim. Apesar da atmosfera no Museu do Massacre ser menos lúgubre que no campo de concentração alemão, a sensação não deixou de ser, também, angustiante.
O Massacre de Nanquim foi um episódio negro da História da China e que, infelizmente, até hoje é pouco conhecido. No dia 13 de dezembro de 1937 tropas do Império Japonês atacaram e dominaram a cidade de Nanquim, naquela época a capital da China. Os japoneses permaneceram na cidade durante seis semanas e, durante todo esse tempo, praticaram as piores atrocidades.
Cometeram assassinatos em massa com requinte de crueldade, estupros coletivos de mulheres jovens, idosas e até crianças, além de saques, roubos e todo tipo de desumanidade. A cidade ficou completamente destruída, as ruas cheias de corpos, um inferno! Foram mortas milhares de pessoas inocentes, completamente desarmadas, rendidas, sem a menor chance de defesa. Os japoneses pintaram e bordaram em Nanquim durante essas seis semanas.
O número de mortos não se pode afirmar com precisão, mas o Museu do Massacre nos informa que essa quantidade é de aproximadamente 300000 vítimas.

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Eu já planejava uma visita a esse museu há bastante tempo, queria ver as fotografias e os vídeos disponíveis (sim, há vídeos, apesar disso alguns japoneses ainda insistem em dizer que o massacre não ocorreu de fato), assim como os relatos de sobreviventes chineses e estrangeiros que viveram em Nanquim durante a guerra.
Claro que isso tudo pode ser feito por meio do computador, hoje a internet está cheia de fotos e documentários que mostram bem como foi o massacre, mas eu queria ir lá, sentir pelo menos um pouquinho do desconforto que coisas desse tipo podem causar, porque acredito que esse desconforto é necessário. É preciso de vez em quando um choque de realidade para aprendermos a valorizar o sofrimento alheio.
Dentro daquele lugar me senti desassossegada e envergonhada. Senti uma melancolia quase inexplicável… Dentro daquele lugar me senti pequenina e completamente inútil.
Espero, sinceramente, que os erros do passado não sejam esquecidos, que fiquem na nossa memória para sempre… Que olhando para esses erros tenhamos ainda mais certeza dos atos que nao devem ser repetidos jamais. Que essa brutalidade do passado sirva para nos ensinar a respeitar a dor alheia e, sobretudo, para nos ensinar a construir um futuro melhor, livre de qualquer tipo de sofrimento e desumanidade. 😥
Quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre o Massacre de Nanquim, indico dois filmes:
Flores do Oriente
City of Life and Death

Além desses dois filmes a internet oferece ainda vários documentários sobre Nanquim, inclusive sobre uma personagem muito importante, John Rabe, um empresário alemão que morou na cidade à época do holocausto e que muito fez pelo povo chinês. Interessante a história dele, vale a pena conhecer.